Os carros no Brasil são mais do que um objeto de trabalho ou distração. Tratam-se de objetos de luxo, status e poder, mesmo se tratando dos modelos mais baratos, que, de baratos, não têm muito. Os carrinhos populares, como são conhecidos, ainda são direcionados ao consumidor com um preço nada, digamos, animador. Muitos acusam as montadoras de quererem lucrar muito em cima dos consumidores, instalando em seus carros o famigerado “preço Brasil’, onde a característica que prevalece é, justamente, o alto preço, deixando, de lado, itens que poderiam fazer a diferença em um carro. Por exemplo: em alguns modelos citados como “populares”, a presença de direção hidráulica e ar condicionado não se confirma, sendo utilizado pelas fabricantes o argumento de que isso permite o barateamento do produto. No entanto, sabemos muito bem que a direção hidráulica deixou de ser opcional há muito tempo, sendo, em outras palavras, um acessório de série.
Embora tenha todo esse dilema acerca dos preços praticados dos carros aqui no Brasil, os consumidores nunca deixam de trocar seus veículos. E, no país, um fenômeno que é observado apenas aqui (em termos de frequência) é a convivência, lado a lado, de modelos recentes, lançados há poucos meses, com carros que já ultrapassam os quarenta anos de vida. E isso, segundo especialistas, irá demorar muito para ter um fim, justamente por conta dos preços dos novos automóveis.
Um exemplo de carro antigo bastante visado entre as pessoas é a Brasília, que foi fabricada pela Volkswagen durante os anos 1970 e 1980. E aqui, iremos falar um pouco mais sobre esse modelo, em particular, do modelo 1300, além de algumas curiosidades sobre esse carrinho, que deixou saudades. Confira:
A História Da Brasília
A Volkswagen Brasília foi um carro lançada pela montadora alemã com a premissa de ser o primeiro carro 100% brasileiro. Tanto que o seu nome é uma velada homenagem à capital federal de Brasília, que foi fundada 13 anos antes do início da produção do modelo nas fábricas da companhia. A intenção com a comercialização do modelo é a criação ode um segmento que ficasse acima do maior sucesso da empresa até então – O Fusca – e que pudesse ser uma opção mais moderna e arrojada, oferecendo, também, um espaço interno maior. O modelo é conhecido por apresentar as maiores janelas da categoria, o que davam um ar ainda mais sofisticado ao carro naquela época.
Depois de vários protótipos, se decidiu por um que se assemelhava e muito a uma mini-variant, o que despertou muita especulação na época, pois alguns meios de comunicação acreditaram que a Volks, na verdade, estava com intenções de lançar uma nova geração do modelo, ao invés de algo totalmente novo. No entanto, isso foi descartado meses antes do lançamento oficial, quando a empresa costumava realizar testes com o veículo próximo de sua fábrica, que foi alvo de uma grande polêmica: em um dos testes, um fotógrafo tentou tirar fotos dos carros em ação, o que provocou a ira dos seguranças que prezavam pela descrição do momento. Ao não ter sucesso ao tentar afastar o fotógrafo, os seguranças que estavam a bordo de um carro resolveram atirar contra o carro de onde estava o fotógrafo. Ele não morreu, mas a ação causou uma comoção no país inteiro, o que praticamente obrigou a Volkswagen a vir a público e pedir desculpas publicamente pelo ocorrido. O fotógrafo em questão era o freelancer Cláudio Laranjeira, que vendeu as fotos obtidas para a conhecida revista Quatro Rodas, que não só atraiu a atenção do público para as bancas, como alavancou significativamente as vendas da revista, o que fez com que o fotógrafo fosse contratado de maneira permanente pela revista, permanecendo lá até os dias de hoje.
Em 13 de julho de 1973, o modelo é apresentado ao Brasil, chegando ao mercado um mês depois do seu principal concorrente, que é o Chevrolet Chevette. Como já dito, a sua aparência remetia muito ao Variant, um outro modelo feito pela Volks, mas sua mecânica era, basicamente, baseada no Fusca, com o mesmo motor refrigerado a ar e montado na parte de trás do carro.
Inicialmente, fora lançado apenas um motor 1.6 movido à gasolina, que rendia de potência 60 cavalos brutos. No entanto, não demorou muito para que os motoristas viessem a reclamar da falta de economia e de potência que o modelo proporcionava. Atendendo aos pedidos, a Volks lançou, em 1975, uma Brasília com o mesmo motor 1,6, só que, agora, dotado com dois carburadores de modelo Solex 32, o que aumentou em cinco cavalos de potência, já mostrando um aumento no desempenho do veículo.
A Brasília 1300
Nos anos 1980, foi lançada a versão Brasília 1300, que tinha todas as características das brasílias lançadas no ano, mas com um único detalhe: era exclusivo somente para carros que fossem abastecidos com etanol. O lançamento, no entanto, saiu pela culatra, já que, além de um desempenho fraco proporcionado pelo motor 1300, aliou-se o consumo anormal de combustível pelo modelo lançado, estando a Brasília movida a gasolina a frente da disputa de mercado.
Antes de 1977, as Brasílias apresentavam em seu interior acabamento simples e sem muito luxo, mas possuíam uma boa qualidade no material. Depois desse ano, isso começou a mudar, com a inclusão de acessórios que deixaria o modelo mais competitivo e luxuoso perante os outros modelos da mesma categoria. Isso chegou a ser aplicado na Brasília 1300, mas as suas vendas e o seu prestígio despencaram, justamente, nas falhas do motor movido à álcool, que apresentaram um desempenho fraco perante ao motor movido à gasolina.
Hoje, a Brasília ainda é bastante presente nas ruas e estradas brasileiras, utilizada ,sobretudo, por quem necessita de espaço interno e, ao mesmo tempo, conforto para dirigir. É válido destacar que as Brasílias, às vezes, atenderam a pedidos dos consumidores, como os taxistas, que ansiaram por um modelo mais a ver com a profissão deles. A Volks, então, lançou a Brasília de quatro portas, que foi majoritariamente comprada por taxistas, já que o conceito de quatro portas naquela época não era bem visto na sociedade, que tinham apreço enorme pelos modelos de duas portas.